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27 novembro 2006

O Perigo das Alturas

Estar acima de 5 mil metros implica um grande esforço e, sem preparação, pode ser fatal.



SE SUBIR A UMA ESTÂNCIA DE ESQUI acima dos 3 000 metros de altitude e sentir fortes dores de cabeça, acompanhadas de náuseas, vómitos e insónias, não hesite em descer rapidamente. Pode perder as férias mas salvar a vida. O seu organismo está a dizer-lhe que não está adaptado às novas condições ambientais. Não abandonar o local pode implicar um edema cerebral de grande altitude, que no limite conduz à morte.
A susceptibilidade ao Síndroma de Inadaptação Aguda à Altitude tem a ver com a constituição genética de cada um e é responsável por muitas mortes em estâncias de neve. «Morre mais gente assim do que a fazer alpinismo», adverte José Magalhães, 39 anos. O professor da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto estudou os efeitos da altitude no corpo humano, para o doutoramento (Janeiro de 2005). Para tal, acompanhou a expedição Pumori 2003, na qual participou Bruno Carvalho.
Feito o alerta, o que é então estar a oito mil metros de altitude? «Colocar aí alguém que não tenha realizado um adequado período de aclimatação é decretar-lhe o coma ou a morte em cinco minutos.»
Não é por acaso que a subida até aos cinco mil metros de altitude demora «entre três a quatro semanas». É o tempo que o organismo precisa para se adaptar às novas condições. Desde logo a rarefacção do oxigénio, cuja pressão passa a ser de apenas um terço da existente ao nível do mar.

ATÉ ESTAS ALTITUDES, o corpo vai resolvendo a situação: os sensores despertam hormonas para aumentar os glóbulos vermelhos - um processo que demora cerca de um mês. Mas aqui o corpo já está a sentir o resultado das temperaturas (30 a 50 graus negativos), pelo que vai tentar prevenir as perdas de calor. Para o efeito, aumenta a vasoconstrição periférica. É nesta altura que podem congelar as pontas dos dedos e o nariz, pois o calor é direccionado para os pontos vitais do organismo.
«Dos 1500 até aos cinco mil metros é possível o organismo adaptar-se», refere o investigador. «A partir daqui não há adaptação possível. É sempre um processo sem hipótese de recuperação.» Por isso, explica, «a regra de ouro é estar o menos tempo possível acima dos cinco mil metros».
Nestas altitudes, o ar é cada vez mais seco, favorecendo a desidratação. Perder água significa perder volume plasmático, o que associado à produção acrescida de glóbulos vermelhos torna o sangue mais viscoso. Logo, há mais pressão cardiovascular. O coração bate forte e depressa.
Paradoxalmente - esta foi a descoberta de José Magalhães -, apesar de haver menos oxigénio, «há produção acrescida de espécies reactivas de oxigénio, acentuando as condições de stresse oxidativo». Ou seja, há mais espécies reactivas do que capacidade antioxidante, deixando margem para danos celulares. O que falta estudar é a influência deste fenómeno na perda de massa muscular, que deixa o corpo sem força. «A maior parte dos alpinistas morre na descida. Se está numa situação de esgotamento físico e psicológico, diminui o estado de alerta. pára, senta-se e morre. Esta é a imagem clássica da morte do alpinista.»
Cesaltina Pinto, in Revista Visão

14 novembro 2006

Operação de Resgate



A equipa que está tentar resgatar o corpo do alpinista Bruno Carvalho, que há uma semana morreu após atingir o cume do Shisha Pangma (Himalaias), está com dificuldades devido às condições climatéricas, disse à Lusa fonte governamental.

Na quinta-feira passada fonte do gabinete do secretário de Estado anunciava que duas equipas de alpinistas chineses já tinham iniciado uma operação de resgate, advertindo que a ascensão até ao local onde Bruno Carvalho está sepultado demoraria sete dias.
Passados esses sete dias, o secretário de Estado das Comunidades disse à Lusa que a operação está a ter «algumas dificuldades no terreno devido ao mau tempo».
Em declarações ao jornal 24horas, o pai de Bruno Carvalho afirmou que os alpinistas chineses já chegaram ao local onde está o filho, mas tiveram de recuar até aos 5 mil metros, devido ao mau tempo.

Recorde-se que não é possível utilizar meios aéreos, pois os helictópteros apenas podem operar até aos cinco mil metros e a localização do corpo situa-se a muito maior altitude.
O Millenium BCP, que patrocinou a expedição liderada pelo alpinista João Garcia, disponibilizou-se para apoiar qualquer iniciativa de resgate do corpo do alpinista Bruno Carvalho.

Entretanto, continuam desaparecidos há 10 dias, nas montanhas dos Himalaias, quatro alpinistas franceses.

05 novembro 2006

Para Meu Querido Irmão

Em homenagem a Bruno Carvalho, deixo-vos com as palavras de João Frazão Couvaneiro, num dos comentários deste blog:

«PARA MEU QUERIDO IRMÃO BRUNO CARVALHO

Para além de ti, tudo continua no seu lugar.
Mas qualquer coisa te fez ficar a guardar montanhas.
Na solidão do vento, que ouves soprar, cada vez mais brando.
Tudo está branco e branco permanece com a tua presença.
Eu, que habito hoje o país da sombras,
Por ti e contigo partilho o ar rarefeito no peito.
E o frio que te guarda o sono e te aprisiona.
Tudo continua no seu lugar, mas persiste o absurdo da tua ausência.»

João Frazão Couvaneiro

Shisha Pangma, o Inferno !


João Garcia in Record DEZ

ESTA NÃO É UMA CRÓNICA fácil, trata-se da crónica de uma vitória com sabor amargo. Nesta altura, quando era suposto termos atingido o nosso objectivo e regressarmos em segurança, não posso dizer que a expedição foi bem sucedida.
Para que todos possamos perceber em que condições se faz alpinismo aos 8.000 metros, é preciso dizer que se trata de um desafio muito físico, no qual só respiramos 33% do oxigénio que normalmente respiraríamos se estivéssemos ao nível médio das águas do mar.
Aqui, a cada passada respiramos quatro vezes. E ao fim de quatro ou cinco horas de caminhada é normal que nos comecemos a distanciar uns dos outros. Se nas maratonas, em pouco mais de duas horas, os atletas registam grandes diferenças uns dos outros, imagine-se o que acontece aqui, onde nós levámos dez horas a ir dos 7.000 metros aos 8.046 do cume do Shisha Pang-ma. Como não somos clones uns dos outros, é normal que cada um tenha o seu ritmo.

NINGUÉM PODE PARAR. Sujeitos a temperaturas de 30 graus negativos, temos consciência de que os fatos não produzem calor, apenas o conservam. Se abrandarmos o ritmo ou pararmos, podemos congelar e morrer. Aqui, não se vive, sobrevive-se. Todos estávamos conscientes do que íamos fazer, somos maiores de 30 anos, inteligentes, e tínhamos um acordo: se ao fim de 12 horas não tivéssemos chegado ao cume, por razões de segurança, dávamos meia-volta e regressávamos. Porque começamos a ter falta de oxigénio no cérebro aos 8.000 metros, o plano tem de ser feito cá em baixo.



O BRUNO CARVALHO obedeceu ao plano, estava dentro dos "timings" definidos, mas foi vítima de um trágico acidente, infelizmente, já não está entre nós. Agora, temos de amortecer a dor da família. O que me custa é que a partir da dor queiram montar um circo sem sentido. É uma tristeza que algumas pessoas falem de coisas que não conhecem. Eu não sou médico, por isso nunca me ouvirão falar de medicina. Em Portugal, infelizmente, há quem goste de falar sem saber.

NESTE MOMENTO, não temos capacidade para recuperar o corpo. Ao pai do Bruno prometi que ia fazer tudo o que fosse possível, contactei os operacionais chineses e a operação de resgate foi posta em marcha, mas é uma coisa que já não domino, é oficial, depende das autoridades da China, da embaixada portuguesa e também da seguradora espanhola. Porém, nada está garantido. Os helicópteros não vão acima dos 5.000 metros, por causa da densidade do ar, e os "sherpas", mesmo habituados a viver nos 4.000 metros, vão precisar de se aclimatar. Precisarão de dois dias para irem do campo base aos 6.000 metros, e mais dois para irem aos 7.000. Não será fácil, mesmo com q recurso ao oxigénio. Uma coisa é os alpinistas irem lá acima porque querem, outra é obrigar alguém ir resgatar um corpo.

O BRUNO TINHA ainda duas horas de margem de segurança, o acidente não se tratou de negligência. Avertente de 300 metros onde ele caiu era pouco inclinada, não sei o que poderá ter sucedido. Talvez fadiga. Mesmo quando paramos, os batimentos do coração são de 160 a 180 por minuto, não sei, houve qualquer coisa. Nós queremos sempre ir mais alto, e quanto mais alto vamos mais a fasquia do risco sobe.

ELE É UM LUTADOR. Lutou tanto como nós, mas teve azar. Não gosto de usar esta expressão, mas aqui foi o que aconteceu, foi azar. O Bruno estava a 400 metros das tendas, onde nós já derretíamos neve, para nos hidratarmos. Levámos dez horas a subir e quatro a descer, não era suposto ter acontecido esta tragédia. O que deveria ter acontecido era o nosso regresso em segurança.


João Garcia e o sherpa Nurô no topo do Shisha Pangma

No dia 02 de Novembro Aurélio Faria escreveu:

“Campo base, campo base… aqui Rosado! O Bruno morreu ontem à tarde – repito - o Bruno morreu ontem, na descida!”
A comunicação rádio, às 10 da manhã (1 Novembro) caiu que nem “uma bomba”! De repente, deixava de fazer sentido o facto de três portugueses terem atingido o cume do Shisha Pangma na véspera. A informação estava ainda bloqueada, até ter a certeza que estavam todos em segurança no Acampamento 2 avançado. A luz do dia trouxe a confirmação da glória, mas também de uma tragédia.

Aos 7 mil metros, por volta das quatro da tarde, ainda com três horas de luz, Bruno Carvalho deu uma queda fatal, a 400 metros do sítio onde ia passar a noite.
Bruno era o último do grupo, de três portugueses e um nepalês, que tinha atingido horas antes o cume de 8013 metros; tal como na progressão para o cume, vinha, no regresso, ao seu próprio ritmo, com atraso de hora, hora e meia, atrás dos outros…
Estranhando a demora, João, Rui e o sherpa Nurô que preparavam já chá para Bruno, saíram da tenda, foram encontrar o corpo do companheiro de expedição, já sem vida, vítima de uma queda, que ninguém consegue ainda explicar.

Em estado de choque, numa noite de vento e muito frio, extenuados por 24 horas de esforço contínuo, a 7 mil metros, onde há 30 por cento do oxigénio, nenhum dos três teve capacidade física para resgatar o corpo, levá-lo até ao acampamento base.
“Tentei dignificar dentro do possível o corpo de Bruno, sinalizei o local improvisado da sepultura, até que seja possível organizar, com sucesso, uma operação de resgate.” João Garcia, líder desta primeira expedição portuguesa a um cume de 8 mil metros ainda não tem palavras para o que aconteceu…

“Ele era a alma de qualquer expedição!” – no acampamento base avançado, as recordações do amigo Bruno marcam a memória de uma aventura, que devia ter acabado em glória, e não em tragédia.


A equipa dos cinco portugueses

No dia 31 de Outubro tinha relatado :
...Ao nascer do dia, o resto do grupo cumpria o planeado, estava já a meio do caminho, como se podia observar do óculo montado no acampamento-base avançado. “Estão a ir bem, muito bem…”
À porta da tenda-cozinha, o cozinheiro Rinji e o ajudante Dordje seguiram toda a manhã, à distância, a progressão, pouco técnica, mas muito lenta, devido ao esforço em altitude até ao cume principal do Shisha Pangma.
João e o sherpa Nurô, logo seguidos por Rui Rosado, foram abrindo trilho em neve rija, ao princípio, mole a meio do percurso, para voltar a ser rija, já no final, antes do cume. “Aqui Bruno, estou um pouco para trás… talvez uma hora atrás deles, mas continuo a progressão…” – a comunicação rádio das dez da manhã nem precisava de confirmação. Cá em baixo, era possível seguir a olho nu o atraso de Bruno. “Segues para cima?” “Sim, claro, “wish me luck!”
… João, Nurô e Rui atingiram o cume por volta das 11 e meia da manhã. Algum vento de sudoeste à chegada, conforme as previsões… 15 minutos esteve o trio na montanha que os antigos chamavam de Trono dos Deuses, tempo para registar o momento para a posteridade, iniciar de imediato a descida…
Para João, este foi o oitavo cume de oito mil metros, a continuação do projecto “À conquista dos Picos do Mundo”, que tem como objectivo pisar o topo das 14 montanhas mais altas do Mundo. Com o Shisha Pangma, Rui Rosado estreou-se a tão alta altitude, tornou-se o quarto “oitomilista” português.



Na descida, a uma hora do cume, os dois cruzaram-se com Bruno, tentaram demovê-lo, em vão, a voltar para baixo com eles: “Está feito, vamos embora…” “Olha que ainda estás longe… já sabes, uma da tarde, cume ou não cume, volta para trás…” – foram os conselhos de João e Rui… “Nem pensar, se já cheguei até aqui…” – foram as últimas palavras que ouviram em vida ao companheiro de expedição… o chamamento da montanha terá sido mais forte…
Aurélio Faria in http://sic.sapo.pt/online/blogs/shishapangma

01 novembro 2006

Drama nas Montanhas



Bruno Carvalho, um dos alpinistas da equipa de João Garcia, morreu esta terça-feira na consequência de uma queda quando desciam o cume Shinsha Pangma, no Tibete,
Após um mês desde o início da expedição, a equipa de alpinistas descia o cume Shinsha Pangma, com 8013 metros e considerado um dos mais difíceis picos da cordilheira tibetana, quando Bruno Carvalho deu uma inexplicável queda. Os restantes membros da equipa encontraram o corpo do jovem de 31 anos já sem vida.

Os companheiros do alpinista eram quatro portugueses: João Garcia, Ana Silva, Rui Rosado e Helder Santos.
A equipa era acompanhada pelo jornalista da SIC Aurélio Faria, qiu disponibiliza um blog com registos da expedição.
Bruno Carvalho já tinha escalados os Andes e as Ilhas Britânicas antes de enveredar por aquela que foi a sua última escalada.
O alpinista morreu depois de ter alcançado o topo, cumprindo a sua meta de alpinista. Como se pode ouvir numa das gravações com a sua voz que o blog disponibiliza :«eu e a restante equipa partiremos rumo ao nosso objectivo, que está mesmo aqui à frente: o cume do Shinsa Pangma, com 8013 metros».

Um dia antes da equipa se lançar à conquista do Shinsha Pangma, Aurélio Faria escrevia
«Em câmara lenta…, muito…, muito…, muito devagar…, um pé à frente do outro…, duas, três, ou mesmo quatro respirações para cada pequeno passo…, a velocidade de progressão é de dois, três metros por minuto… Numa hora, os melhores alpinistas sobem pouco mais de cem metros… No seu livro “A mais alta solidão”, onde narra a escalada do Everest, João Garcia chega a comparar a velocidade de marcha a 8000m com o ritmo de “velhinhas a atravessar a rua“. Para João, andar a esta altitude já não é nenhuma novidade – se conquistar o Shisha Pangma, o maior alpinista português da actualidade averbará no currículo o oitavo cume de 8000 metros. Mas para a restante equipa, - Ana, Bruno, Hélder e Rui, será uma estreia absoluta, a ultrapassagem da chamada “zona da morte”, onde se respira apenas um terço do oxigénio, pode ser fatal a simples exposição á altitude…»


Os quatro atingiram já cumes de 7000 m… Para esta mais alta montanha, todos treinaram intensamente, ouviram os conselhos do “mestre” João: “Um cume de 8000m é como uma maratona ininterrupta, pode durar um dia…, o cume é sempre um bónus…, ainda é preciso descer…”. E é na descida, confirmam as estatísticas, que se registam muitas das fatalidades da alta montanha.
Caso ultrapassem a barreira dos 8000m, Ana, Bruno, Helder e Rui serão himalaístas consagrados, terão com certeza histórias para contar sobre a forma como conseguiram pôr um pé à frente do outro, durante horas a fio, para ter, por breves momentos, a imensidão do mundo aos seus pés…
Mais informações : http://sic.sapo.pt/online/blogs/shishapangma

Vídeo disponibilizado dias antes do acidente


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